terça-feira, 1 de setembro de 2015

Pra você dar o nome


Ele apareceu na minha vida como alguém que aparece pra dar uma carona, quando se está cansado demais de andar pelo acostamento. Eu aceitei, entrei no carro e ele entrou na minha vida. Dividimos um pouco do caminho, e eu aproveitei cada momento da estrada, esquecendo até das necessidades mais básicas: comida, água e descanso. Me alimentando com um misto de gratidão + safadeza + carinho, e quer saber? não me importo em ter sido passageira, em nenhum sentido.  

Me pego pensando porque ele parou o carro e me abriu a porta, as vezes acho que foi porque viu em mim um pedido desesperado por cuidados, outras vezes tenho certeza que se atraiu por essa capa de maturidade, desenvoltura e confiança que eu achava que mostrava pro mundo. Só sei que ele é alguém impar, raro, e que existem alguns exemplares como ele por aí, mas sei que dificilmente vão cruzar meu caminho, pisar no freio e perguntar se estou indo pro norte.  

Também me pego pensando porque eu entrei no carro. Paguei pra ver. Gostei do que vi. Do que vivi. Do que senti.

Tudo aconteceu muito rápido, duas folhas do calendário foram embora levando junto muitas certezas. A certeza de que eu era uma mulher de cabeça e corpo formado, blindada de sentir. Ele chegou, notou que arrancava fácil meu sorriso, fisgou meu olhar, tirou minha vergonha, minha calcinha e meu juízo e mesmo assim, conseguiu enxergar a menina que ainda sou, a menininha que tenho mania de esconder do mundo. 

Eu tinha um roteiro de tudo que aconteceria em todos os pedacinhos da minha vida. Mas o desafiei com o olhar e ele apareceu com o roteiro dele, me fez rir e mudou tudo. Me fez ver, sem perceber, que não valia a pena manter uma relação por achar que nunca ia encontrar alguém, não era justo com ninguém. O mundo ta aí e eu tenho que mostrar pra ele quem eu sou, pro universo me devolver em dobro.  

Foi sexo, música, transição, sexo, empenho, nervosismo quando se aproximava a hora de encostar nele, interesse, sexo, sorriso, arrepio, mimo, sexo, tentativa, perigo e sexo. Foi foda. Foi.  

Deixo pistas sobre minha gratidão. Ele é esperto e já notou que ela existe. Agradeço por ter aparecido e me dado a chance de ter escolhido ele,  pra viver o que vivi. Acho que fomos muito sortudos em termos nos encontrado. Não sei se na hora certa, nem sei se existe hora certa. Mas encontramos no outro o que estávamos procurando e nem sabíamos. Vou dar o braço a torcer e dizer que não é só pele, não foi só pele. Se foi paixão? Não. Paixão acaba em dor, isso - que ele nunca deu um nome - não é paixão, porque terminou em sorriso.   

Guardo de tudo e de todos que passam na minha vida - lugares, pessoas, momentos - uma música ou um cheiro. Com ele foi diferente, ele aguçou meus sentidos, meu faro. Dele, guardo uma coletânea inteira de sons. Daqui em diante, levarei com leveza tudo que aconteceu. E se ele me pedir, fico pra tomar a saideira.   

Fernanda Barros




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