quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Sobre você.


Ontem escutei uma história super divertida, acho que envolvia um fusca, um motorista que não sabia o que era esquerda e direita e uma plantação de cana. Ri bastante, a história era engraçada, mas no meio da gargalhada me peguei pensando que queria te contar essa história, mas não podia. Ontem foi o dia que você me disse que queria se afastar (pensei que já estivéssemos distante), mas hoje você me ligou e falou que passou aqui novamente, pra me ler. Escrevi mais algumas coisas sobre ti, mas resolvi que não era certo dividir com você nem com ninguém. 

Então, vou usar um trecho de um livro de um dos meus autores preferidos pra falar um pouquinho pra você: 

-

Não digo que não fiquei mexida contigo, não vou dizer que depois daquela noite não pensei em ti. Pensei sim, mas eu decidi que só estava necessitada e vulnerável e curiosa. Porém, a semana foi passando e aquele timbre de voz não saía do meu ouvido interno, aquele olhar sujo-ingênuo paralisante ficava embaçando minha visão, aquelas conversas ficavam se desenrolando na minha cabeça. Mas esqueci, sei lá, a distância e o monte de coisas que eu tinha para fazer me fizeram esquecer.

Eu estava acabada, triste, desiludida, enjoada, arrasada, sem um único lugar no mundo para enfiar meu pescoço. Entrei naquele lugar outra vez, só por curiosidade, certa de que iria comprovar a minha tese, que aquele barulho todo era por nada. Você estava lá, o pouco que falou comigo, as brincadeiras bobas, o calor do corpo o mais próximo que eu deixava chegar perto, já me aqueceu naquela noite de inverno desgraçadamente fria. Naquele momento tudo voltou. Mesmo estressada, pude sorrir. E isso despertou dentro de mim, como um alarme dizendo que eu precisava te ver semanalmente. Naquela noite, quando retornei pra casa e agarrei meu travesseiro, senti saudades. Foi estranho.

Aí o beijo repentino, minha negativa mesmo louca de vontade, mas é que eu achava que seria mais vantagem uma amizade verdadeira, já que namorado eu já tinha. E eu nem te conhecia direito, achava que você era como todos os outros (já falamos sobre isso). Um tempo depois... olha só, quem pedia beijo era eu.
Antes de viajar, eu quis te encontrar, mas como sempre você foi arisco, e acabamos não nos falando direito. Sei lá o que eu queria. Provavelmente acabaríamos fazendo coisas proibidas outra vez. Talvez eu quisesse sugerir a você que me encontrasse aqui. Mas conheço meus bloqueios vocais, acho que só diria tchau mesmo.

Hoje posso dizer que tomamos a decisão certa, quer dizer, você tomou. Você sabe das coisas. Acho que, como amigos, pelo menos tenho alguém para escrever e contar minhas coisas, uma amizade vale mais do que meia-dúzia de atitudes precipitadas. Estou vendo as coisas de um modo diferente, por outro ângulo. Você contribuiu para tudo isso, me ajudou a encarar as novas situações, você sempre me deu força, mesmo daquele seu jeito rude e torto e reticente.

Precisei desse tempo longe. Eu estava exausta de todo mundo falando mal de mim pelas costas, especulando minha vida aos cochichos, soprando por aí que eu não passava de uma putinha. Gente hipócrita. Até parece que fui a primeira mulher de toda aquela faculdade idiota e do mundo inteiro que teve vontade de dar para outro. Pelo menos fiz o que eu fiz porque estava apaixonada, embora essa justificativa nem vale como justificativa, tenha sido apenas meu álibi para não sentir culpa. E eu não sinto mesmo. Se sinto alguma culpa é por não me sentir culpada por aquilo, que afinal de contas foi tão bom. Se ostentar duas caras era o que eu precisava para me sentir completa, foi o que eu fiz. Claro, existem as consequências, casa que incendeia não para em pé, mas o terreno fica. Limpa-se os escombros e se ergue tudo de novo, mais próxima do que você sempre sonhou arquitetar. As pessoas têm medo das consequências, mas às vezes é o período mais fértil. Enfim. Aconteceu o que era para acontecer, o jeito como aconteceu é que não deu para controlar.

É isso, então. Acabei dizendo esse monte de coisas quando só queria mesmo dizer que gosto de ti, honestamente. Não sei se como amigo ou algo mais, mas definitivamente pelo tipo de gente que você escolheu ser. Rezo para que você tenha sorte aí com suas coisas, que você fique com um alguém legal como você, que ela possa te fazer feliz e mostrar que o amor verdadeiro existe sim, coisa que obviamente sou incapaz de fazer. Bem, no próximo ano talvez a gente não se veja muito, pois é difícil não notar que vamos seguir caminhos diferentes. (Mas, juro, você vai junto comigo no meu peito. Passe o tempo que for, nada vai apagar a lembrança daquele olhar. Profundo).



Gabito Nunes



Nenhum comentário:

Postar um comentário

sentidos.